Entrevista com Luciana Villa Nova, Gerente de Sustentabilidade na Natura.
Entrevista com Luciana Villa Nova, Gerente de Sustentabilidade na Natura. Primeira entrevista da série realizada com membros da Rede Brasil.
1. Como você vê a retomada sustentável?“A pandemia escancarou a complexidade planetária em que vivemos, nos lembrando de que a nossa interação é com tudo, do meio ambiente ao interpessoal, e que a economia exploratória e pouco inclusiva precisa ser transformada. Com ameaças como novas epidemias e crises climáticas, a retomada sustentável se torna um assunto de todos, saindo do campo político, acadêmico ou de especialistas. Vejo que esse movimento é marcado pela democratização dos grandes temas da sustentabilidade entre as pessoas e uma conscientização sobre sua relevância.”
2. Como você vê a conexão ODS e ESG?“A conexão entre ODS e ESG é enorme, pois a agenda dos ODS é transversal e porta de entrada para o ESG. As empresas devem manter um olhar a partir dos ODS para os desafios que a organização possui. Com isso, é possível entender os critérios que o mercado financeiro precisa adotar, levando sempre em consideração onde o capital é investido e o impacto que é gerado. O trabalho com os ODS e o ESG permite estabelecer como o impacto será medido e como ele será comunicado, visando a transparência para todos os stakeholders”.
3. Qual a importância das empresas assumirem compromissos públicos no avanço dos ODS?“Eu acredito muito na importância das metas, principalmente quando elas são públicas, pois direciona as empresas a efetuarem a agenda com a qual se comprometeram. Acredito que as metas públicas são o ponto de partida dessa transformação ao ajudarem a empresa a se mover, e ao instigarem a inovação, a busca por experiências e a estruturação. Ao assumir compromissos públicos, com prazos claros para o planejamento e implementação, a agenda se torna uma preocupação constante, ajudando a organização a não perder o objetivo que se deseja alcançar. Quanto mais as metas forem públicas, mais geram debate rumo ao avanço com os ODS.”
4. Qual ponto chave para que a equipe abrace a jornada em sustentabilidade da empresa?“O ponto chave é partir do trabalho em rede. A área de sustentabilidade precisa ser uma área de estratégia que ajuda as demais áreas a absorverem a temática no dia a dia. Vejo três etapas que precisam ser garantidas inicialmente por uma área de sustentabilidade: articular as estratégias, influenciar a cultura organizacional e disseminar o conhecimento. Todos precisam ter acesso ao conteúdo e aprender para se sentirem parte da transformação. Com isso, o assunto se torna de todos e razão de existir da empresa.”
5. Você está há anos trabalhando com sustentabilidade. Como avalia o atual momento, ainda mais pós pandemia e com a crescente ESG?“Há vinte anos a sustentabilidade vem sendo pautada como tema importante. Ela nasceu nas grandes escolas de economia, mas só agora o tema está sendo tangibilizado para o mercado financeiro. Com a pandemia, aumentou a visibilidade de todos os problemas e desafios envolvendo a sustentabilidade, já que o impacto que geramos sempre está relacionado às decisões do modelo econômico vigente. A cultura do consumismo, da desigualdade, da exclusão e do individualismo precisa ser mudada, pois vimos que fazemos parte de um planeta com limite físico. Agora ficou mais urgente a transparência e a ação, despertando o senso do coletivo, como é o caso da pandemia – se não vacinamos todos, o problema não é superado. Com a sustentabilidade é algo semelhante. É um momento em que a sociedade vai querer saber onde as empresas estão investindo, e é aqui que o ESG entra, com o desafio de desdobrar os ODS para o mercado financeiro. O cenário atual exige que seja estabelecido um modelo de governança para a sustentabilidade e que fique clara a conexão entre os ODS e o ESG. O desenvolvimento sustentável passa a ser visto como oportunidade e não mais um risco aos negócios, até porque passamos a ter a sociedade cobrando, bem como um consumidor e um investidor. Acredito na guinada para a transformação e conscientização de que algo precisa ser feito com urgência. A pergunta é: qual é o futuro que estamos construindo e onde estamos investindo? Estou otimista e vejo que começamos uma nova jornada para os próximos 10 anos até 2030, que passa a associar o capital ao modelo ESG, de investimento de impacto, para mudarmos a rota.”
Entrevista realizada em 02/08/2021