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Educação é prioridade para refugiadas

Texto de Miguel Pachioni, do ACNUR Fotos de Fellipe Abreu Ter uma educação mais qualificada faz a diferença na hora de conseguir trabalho no disputado mercado brasileiro.

Texto de Miguel Pachioni, do ACNUR
Fotos de Fellipe Abreu
Ter uma educação mais qualificada faz a diferença na hora de conseguir trabalho no disputado mercado brasileiro. E para um grupo de mulheres refugiadas que vive em São Paulo, não falta esforço e dedicação para melhorar seu currículo. No dia 11 de maio, 20 refugiadas da Síria, República Democrática do Congo, Colômbia, Nigéria e Moçambique se encontraram em mais uma rodada do projeto Empoderando Refugiadas para conhecer oportunidades de capacitação em universidades e outras instituições – e com isso aumentar suas chances de obter um bom emprego.
Este encontro propiciou às refugiadas estar em contato com a Universidade de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Católica de Santos (UniSantos), que oferecem mecanismos de acesso diferenciado em seus cursos de graduação. Elas também se informaram sobre os cursos técnicos oferecidos para refugiados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). As refugiadas também tiveram sessões de mentoria de recursos humanos, vivência em atenção plena e passaram por um workshop de maquiagem.
O Empoderando Refugiadas tem contribuído para orientar mulheres que foram forçadas a deixar seu país de origem sobre as possibilidades existentes no Brasil para qualificação profissional. “Estou no Brasil há dois anos e quero entrar na universidade para  ter um emprego que me faça sentir orgulhosa. Estou descobrindo coisas que possam me levar mais longe”, disse Maria, de 18 anos, solicitante de refúgio da República Democrática do Congo, que já participou de outros encontros do Empoderando Refugiadas neste ano. Assim como nos demais encontros, ela estava acompanhada da irmã e da mãe.
Representantes da UFSCar e da UniSantos explicaram às refugiadas seus mecanismos que facilitam a entrada em seus cursos de graduação. A UFSCar, que é uma universidade pública, destina aos refugiados que vivem no Brasil uma vaga em cada um dos seus 64 cursos de graduação, enquanto que a UniSantos lança, todo mês de janeiro, um edital que oferece três vagas com bolsa integral para esta população.
Ambas universidades integram a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, coordenada pelo ACNUR para promover aos alunos matriculados o acesso à temática do refúgio e dos deslocamentos forçados por meio da oferta de conteúdo de diferentes disciplinas, além de possibilitar o acesso de pessoas refugiadas ao ensino superior.
De volta à sala de aula
A refugiada colombiana Angélica, que cursa psicologia na UFSCar, participou do encontro e recomendou o mundo universitário às demais mulheres. “Cheguei no Brasil com poucas malas e meus filhos pequenos. Entrar na universidade foi um recomeço para mim”, disse Angélica, que vive no país há mais de cinco anos. Após passar por Manaus, ela se estabeleceu em São Carlos e considera “muito boa” sua adaptação ao Brasil. “Mesmo com algumas dificuldades, você não pode perder a fé”, disse a refugiada, de 41 anos.
Natural de Moçambique, a refugiada Lara, de 33 anos (foto à direita), ficou mais interessada nos cursos apresentados pelo SENAI, já que ela tem formação em Tecnologia da Informação e busca um curso mais rápido para aprimorar seus conhecimentos. “Quero me aprofundar mais na minha área de formação, pois acredito que o mercado absorve mais facilmente quem detém conhecimentos específicos”, comentou.
De acordo com avaliações feitas pelo ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), uma das principais demandas da população refugiada que vive no Brasil é revalidar seus diplomas universitários e dar continuidade aos estudos para trabalhar em suas áreas de formação. Nesse sentido, Nizreen, refugiada síria de 33 anos, reflete exatamente o quanto o projeto tem lhe ajudado a obter novas conquistas profissionais. “As informações que recebemos aqui são muito valiosas, assim como o fato de conhecer outras mulheres e trocar experiências com elas. Sou técnica em engenharia civil e agora tenho um delivery de comida árabe. Venho ao encontro para aprender mais sobre como empreender no Brasil e tem sido muito bom”, afirmou.
Outras informações válidas para as refugiadas se referem aos cursos profissionalizantes que foram apresentados ao longo do encontro, como o curso de costura promovido pelas Lojas Renner; o projeto Conexão Varejo, do Carrefour; o curso de empreendedorismo realizado pelo Consulado da Mulher; e também os cursos de culinária e atividades culturais da plataforma de negócios sociais Migraflix.
Olhar sobre si mesmas
Como a autoestima das mulheres refugiadas também é um elemento fundamental para sua valorização pessoal e profissional, a gerente de estratégia e comunicação social da Natura, Ana Carolina Soutello, falou às mulheres refugiadas sobre a importância de se sentirem bem consigo mesmas na longa caminhada que percorrem. “Mais do que a beleza em si, precisamos ter generosidade pela forma como nós mesmas nos olhamos e julgamos, pois isso impacta o nosso humor e nossas relações”.
As refugiadas presentes no encontro também foram divididas em grupos de afinidade para ter um acompanhamento com profissionais de RH das empresas Facebook, Carrefour, Sodexo, Natura, Whirlpool, Lojas Renner e Consulado da Mulher. As mulheres participaram ainda de um workshop de atenção plena e uma oficina de maquiagem (foto à direita), quando receberam kits de cosméticos da Natura.
O terceiro encontro do Empoderando Refugiadas aconteceu na sede da EMDOC, empresa especializada em consultoria jurídica de imigração e suporte na acomodação e adaptação de expatriados. O braço social da EMDOC é o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR), projeto voltado à reinserção das pessoas refugiadas no mercado de trabalho brasileiro, assim como para difundir o conhecimento desse potencial humano às corporações. O próximo encontro acontece no dia 2 de junho, na sede do Facebook, em São Paulo.
O Empoderando Refugiadas é coordenado pela Rede Brasil do Pacto Global – por meio do Grupo Temático de Direitos Humanos e Trabalho -, numa iniciativa conjunta com o ACNUR e a ONU Mulheres. O projeto tem como parceiros estratégicos a Caritas Arquidiocesana de São Paulo, a Fox Time Recursos Humanos, o ISAE e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). Além disso, conta com as seguintes empresas parceiras: Carrefour, EMDOC, Facebook, Lojas Renner e Sodexo.