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Março de 2023 – Caros amigos,
A humanidade está sobre gelo fino – e esse gelo está derretendo rapidamente. Como o relatório de hoje do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) detalha, os seres humanos são responsáveis por praticamente todo o aquecimento global ao longo dos últimos 200 anos.
A taxa de aumento da temperatura no último meio século é a maior dos últimos 2.000 anos. As concentrações de dióxido de carbono estão no seu ponto mais alto em mais de dois milhões de anos, pelo menos. A bomba-relógio climática está fazendo ” tique-taque “. Mas o relatório do IPCC de hoje é um guia de como desarmar essa bomba. É um guia de sobrevivência para a humanidade.
Como mostra, o limite de 1,5 graus é alcançável. Mas dará um salto quântico na ação climática. Este relatório é um apelo claro aos países e setores para que façam esforços climáticos maciços e rápidos em todos os lugares e em cada período de tempo.
Em suma, o nosso mundo precisa de ação climática em todas as frentes – em tudo e em todo lugar, ao mesmo tempo. Propus ao G20 um Pacto de Solidariedade Climática – no qual todos os grandes emissores fazem esforços extra para cortar as emissões, e os países mais ricos mobilizam recursos financeiros e técnicos para apoiar as economias emergentes num esforço comum para manter vivos o 1,5 graus.
Hoje, apresentei um plano de supercarga de esforços para alcançar este Pacto de Solidariedade Climática de mãos dadas pela Agenda de Aceleração. Começa com as partes apertando imediatamente o botão de aceleração dos prazos para alcançar o Net Zero global até 2050 – alinhado com o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas nas respectivas capacidades, levando em conta as diferentes circunstâncias nacionais. Especificamente, os líderes dos países desenvolvidos devem comprometer-se a chegar ao Net Zero o mais próximo possível de 2040, devendo todos visar o cumprimento do limite. Isto pode ser feito. Alguns já estabeleceram uma meta para 2035.
Os líderes das economias emergentes devem comprometer-se a chegar ao Net Zero o mais próximo possível de 2050 – mais uma vez, o limite que todos devem procurar respeitar. Alguns já assumiram o compromisso de 2050.
Este é o momento para todos os membros do G20 unam-se em esforço conjunto, reunindo os seus recursos e capacidades científicas, bem como as suas tecnologias já comprovadas e acessíveis através dos setores público e privado, para tornar a neutralidade de carbono uma realidade até 2050. Cada país deve ser parte da solução. Exigir que os outros deem primeiro só garante que a humanidade fique em último lugar. A Agenda da Aceleração requer uma série de outras ações.
Especificamente:Nenhum a eliminação progressiva do carvão até 2030 nos países da OCDE e 2040 em todos os outros países. Acabar com todo o financiamento público e privado internacional do carvão. Assegurar a produção de eletricidade Net Zero até 2035 para todos os países desenvolvidos e 2040 para o resto do mundo. Cessar todo o licenciamento ou financiamento de extração de petróleo e gás – em conformidade com as conclusões da Agência Internacional de Energia. Interrupção de qualquer expansão das atuais reservas de petróleo e gás. Mudança dos subsídios dos combustíveis fósseis para uma transição energética justa. Estabelecimento de uma redução global da produção existente de petróleo e gás compatível com a meta global de Net Zero em 2050.
Eu apelo a todos os governos para que preparem planos de transição energética coerentes com estas ações e prontos para os investimentos. Apelo também aos CEOs de todas as empresas de petróleo e gás para que façam parte da solução. Devem apresentar planos de transição credíveis, abrangentes e detalhados, de acordo com as recomendações do Grupo de Peritos de Alto Nível sobre compromissos com Net Zero.
Estes planos devem detalhar claramente os cortes efetivos de emissões para 2025 e 2030, e os esforços para mudar os modelos de negócio para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e aumentar a escala das energias renováveis.
Esta aceleração já começou em alguns setores, mas os investidores precisam de sinalizações mais claras e transparentes. E todos os governos precisam da garantia de que os líderes empresariais os ajudarão a realizar esforços adicionais – mas os governos devem também criar um ambiente político e regulamentar favorável.
Navegação, aviação, aço, cimento, alumínio, agricultura – todos os setores devem ser alinhados com o Net Zero até 2050 com planos claros, incluindo objetivos intermédios que permitam chegar lá.
Ao mesmo tempo, precisamos de aproveitar a oportunidade de investir em inovações viáveis que possam contribuir para alcançar as nossas metas globais. Temos também de acelerar os esforços para fazer justiça climática aos que estão na linha da frente de muitas crises – nenhuma delas foi por eles causada.
Podemos fazer isto:Salvaguardar as comunidades mais vulneráveis, e aumentar o financiamento e as capacidades de adaptação e de perdas e danos. Promover reformas para garantia multilaterais para que Bancos de Desenvolvimento forneçam mais subsídios e empréstimos concessionais e mobilizem plenamente o financiamento privado. Honrar os compromissos financeiros assumidos em Copenhagen, Paris e Glasgow. Reabastecimento do Fundo Verde para o Clima este ano e desenvolvimento de um roteiro para duplicar o financiamento da adaptação antes de 2025. Proteger todas as pessoas com sistemas de alerta precoce contra desastres naturais em quatro anos. Implementar o novo fundo de perdas e danos este ano.
Quanto mais tempo se esperar por qualquer uma destas questões cruciais, mais difícil se tornará. Em menos de nove meses, os líderes irão reunir-se na COP28 para o primeiro balanço global do Acordo de Paris. Lançarão também o processo de preparação do próximo ciclo de planos climáticos nacionais – ou Contribuições Determinadas a Nível Nacional – previsto para 2025. Estes novos planos climáticos devem refletir a aceleração de que necessitamos agora, ao longo desta e da próxima década.
Até ao final da COP28, conto com todos os líderes do G20 para se terem comprometido com contribuições ambiciosas de nova economia a nível nacional, abrangendo todos os gases com efeito de estufa e indicando as suas metas de redução absoluta de emissões para 2035 e 2040.
A transição deve abranger toda a economia. As promessas parciais não cortarão. Estou ansioso por dar as boas vindas aos “primeiros passos” na Agenda de Aceleração na Conferência da Ambição2030, em Setembro, em Nova Iorque.
Mais uma vez, agradeço ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) por ter mostrado a saída da confusão climática baseada em fatos e na ciência.
Nunca estivemos tão bem equipados para resolver o desafio climático – mas devemos nos desdobrar agora na ação climática.
Não temos um segundo a perder.
Obrigado.
António GuterresSecretário-Geral da ONU
Fonte: https://www.un.org/sg/en/content/sg/statement/2023-03-20/secretary-generals-video-message-for-press-conference-launch-the-synthesis-report-of-the-intergovernmental-panel-climate-change