A Rede Brasil do Pacto Global organizou dois webinars durante o maior fórum sobre questões globais da água.
Setembro 2021 – A necessidade de investimento em projetos inovadores, com novas tecnologias para obter processos mais limpos, e a importância do diálogo e da atuação das empresas em parceria com as comunidades locais são duas iniciativas fundamentais na busca por soluções para as questões globais da água. Essas foram as principais conclusões dos dois painéis de discussão liderados pela Rede Brasil do Pacto Global durante a Semana Mundial da Água (World Water Week), realizada entre os dias 23 e 27 de agosto.
Principal evento anual em questões globais da água e realizado anualmente em Estocolmo, na Suécia, local que tem sido o ponto focal para questões globais de água desde 1991, a conferência deste ano, devido à disseminação global da COVID-19 e às medidas tomadas pelas autoridades nacionais e locais para conter a disseminação da doença, foi realizada de forma online, por meio de webinars.
Com o tema “Como a água pode nos ajudar a enfrentar os maiores desafios do mundo, como a crise climática, a pobreza e a perda de biodiversidade?”, a WWWeek at Home proporcionou momentos de aprendizagem colaborativa global, com troca de pontos de vista, experiências e práticas entre a comunidade científica, empresarial, política e a sociedade civil.
A Rede Brasil do Pacto Global, em parceria com a Fundación Avina, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces) e o Pacto Global Red Colombia, patrocinado pela Ambev, Grupo Malwee, Grupo Sabará e Solar Coca-Cola, organizou dois webinars durante o evento deste ano: Water Footprint Tool: helping companies to achieve water resilience (em português ferramenta de pegada hídrica: ajudando as empresas a alcançarem a resiliência hídrica) e Solutions for water access improvement in rural communities in Brazil (em português soluções para melhoria do acesso à água em comunidades rurais no Brasil).
Ferramenta de pegada hídrica: ajudando as empresas a alcançarem a resiliência hídricaA transição para um futuro com segurança hídrica e zero carbono é uma fonte de oportunidade para inovação, diferenciação de mercado e valor de marca. Para ter sucesso, as empresas precisam olhar para além das respostas “convencionais” ao gerenciamento da poluição e buscar planos para crescer de forma mais ousada.
A pegada hídrica é uma forma de mensurar os usos e impactos ambientais relacionados à água ao longo do ciclo de extração da matéria-prima, beneficiamento, uso e destinação final dos produtos. A ISO 14046 é o principal método para o desenvolvimento de estudos de pegada hídrica e está totalmente alinhada aos princípios da ISO 14040, de avaliação do ciclo de vida (ACV).
O painel “Water Footprint Tool: helping companies to achieve water resilience”, que apresentou casos de negócios de sucesso da implementação da ferramenta da pegada hídrica no Brasil e na Colômbia, gerou discussões sobre as barreiras para a ampla adoção de estratégias de gestão da água para alcançar a resiliência da matéria-prima nas operações e cadeias de valor das empresas. A sessão contou com a presença de Bibian García, do Global Compact Red Colombia, Juliana Picoli, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Lilian Taise da Silva Beduschi, da Malwee, e Sandra Yamile Aceros, da Ecopetrol.Uma das questões apontadas durante o evento online é a necessidade de investimento em projetos inovadores, com novas tecnologias para obter processos mais limpos. Para Sandra Aceros, da Ecopetrol, a melhor maneira para uma gestão eficiente da água é antecipar investimentos em eficiência operacional na gestão do insumo, para aumentar a resiliência do negócio. “Basta fazer um tour pelos riscos associados à água: físicos, de reputação, regulatórios e financeiros que cada instalação possui. Por exemplo, o que acontece se não tivermos água suficiente para operar? Existem várias maneiras: paramos de operar? Fechamos nossas instalações? Ou assumimos os altos custos econômicos e de reputação associados à compra de água em áreas que já apresentam conflitos de uso?”, questiona Sandra, destacando que a Ecopetrol trabalha para alcançar reduções de mais de 50% na captação de água doce, em médio prazo, alavancadas na eficiência operacional e na implementação de fontes alternativas de abastecimento.
Cada investimento em eficiência operacional na gestão da água gera uma resposta positiva no meio ambiente, pode transformar conflitos e demonstrar o compromisso com a sustentabilidade do recurso hídrico em cada bacia, além, é claro, de posicionar a marca. “Pela ótica da oportunidade, o consumidor sente diretamente os impactos da falta de água, o que agrega ao produto fabricado com menos água um diferencial de compra. Posso citar o case da Malwee do jeans produzido com um copo de água no processo de lavanderia, que é sempre destaque em nossas coleções e tem aberto espaço no guarda-roupa de novos consumidores para a marca”, reitera Taise Beduschi, do Grupo Malwee.
Uma forma de comunicar as práticas sustentáveis das empresas com os clientes, financiadores e consumidores é por meio do Certificado Azul, uma iniciativa do projeto El Agua nos Une, o qual certifica as empresas que reduziram a sua pegada hídrica, gerando um retorno reputacional além do financeiro, como destaca Juliana Picoli, do FGVces.
É necessário que cada empresa inclua as questões hídricas na identificação dos seus riscos de negócios, os quais devem estar atrelados à adaptação às mudanças climáticas. A partir disso, deve ser definido um plano de ação no curto, médio e longo prazo. Um dos desafios é a necessidade de envolver plenamente a cadeia de bens e serviços no cumprimento dos objetivos e metas que a empresa tem em termos de sustentabilidade.
A ferramenta da pegada hídrica contribui para a identificação de fornecedores que possuem alto impacto na pegada hídrica, e auxilia as empresas a identificar os pontos críticos em suas operações diretas e ao longo do ciclo de vida, para que possam tomar as melhores decisões de gestão da água em toda a cadeia produtiva.
Soluções para melhoria do acesso à água em comunidades rurais no BrasilNo painel “Solutions for water access improvement in rural communities in Brazil”, foram reunidas algumas das empresas que estão trabalhando no Brasil em projetos colaborativos e inovadores para garantir o acesso à água com qualidade a estas comunidades. A sessão, que contou com a participação de Telma Rocha, da Fundación Avina, Lucas Nosé Donato, do Grupo Sabará, Rodrigo Brito, da Coca-Cola, e Luiz Gustavo Talarico, da Ambev, evidenciou que as empresas precisam, cada vez mais, enxergar valor no investimento em ações para fora dos seus muros.
Além de realizar ações para melhorar a eficiência hídrica e reduzir o consumo de água nas suas operações, bem como investir em projetos de conservação de mananciais e proteção de áreas verdes, as organizações perceberam a necessidade de inovar e colaborar com a agenda de acesso à água, trazendo esta temática como tema prioritário e incorporando-a na estratégia do negócio e na cultura da empresa. Dessa forma, percebe-se que as empresas têm mais clareza sobre o papel que elas possuem como companhia para a sociedade, uma vez que as relações entre parceiros, consumidores, colaboradores, fornecedores e comunidades estão interligadas. “É pensando em que vivemos em um ecossistema que se tem ido para além dos muros da empresa. Como companhia, conseguimos nos conectar a uma grande rede de parceiros que se alinha aos nossos propósitos e objetivos. Temos um sistema muito sólido, de startups e representantes da sociedade civil, que são o braço direito em todos os projetos que atuamos”, comenta Luiz Talarico, da Ambev.
Entre os desafios e aprendizagens do processo de promover soluções para o acesso à água em comunidades rurais, destaca-se a importância das parcerias, tanto com parceiros que possuem expertise em ações em comunidades, como a Fundación Avina, quanto com parceiros das próprias comunidades locais. “A palavra-chave é parceria para garantir o acesso à água de qualidade para comunidades que estão longe de centros urbanos, pois acaba se criando uma sinergia entre os segmentos que acelera a criação de soluções para o acesso à água”, aponta Lucas Donato, do Grupo Sabará.
Rodrigo Brito, da Coca-Cola, conta que a empresa mudou a sua abordagem e, ao invés de impor o que gostaria de investir, discute com as organizações onde cada investimento será mais útil. “O que tem acontecido é que as próprias comunidades entram em contato com a prefeitura informando que conseguiram determinado orçamento com a empresa, então a prefeitura entra com mão de obra e maquinário. Por conta dessa abordagem coletiva a partir do diálogo com as comunidades, começamos a conseguir alavancar uma série de iniciativas”, aponta Brito.
Confira as apresentações na íntegra:Water Footprint Tool: helping companies to achieve water resilience
Solutions for water access improvement in rural communities in Brazil