O Grupo Temático de Energia e Clima da Rede Brasil do Pacto Global promoveu no dia 23 de agosto em Niterói (RJ) o 3° Workshop da série “Diálogos de Financiamento Climático”, na sede da Enel Brasil, distribuidora de energia elétrica de capital italiano.
O Grupo Temático de Energia e Clima da Rede Brasil do Pacto Global promoveu no dia 23 de agosto em Niterói (RJ) o 3° Workshop da série “Diálogos de Financiamento Climático”, na sede da Enel Brasil, distribuidora de energia elétrica de capital italiano. Participaram do evento especialistas e representantes de empresas signatárias e não signatárias do Pacto Global, que procura facilitar o diálogo sobre o acesso a recursos financeiros voltados a projetos de mitigação dos gases de efeito estufa e adaptação às mudanças climáticas.
No evento, os expositores abordaram diferentes modalidades de financiamento de projetos para enfrentar as mudanças climáticas, tais como project finance, debêntures de infraestrutura, títulos verdes (“green bonds”) e linhas de crédito de bancos de fomento e instituições multilaterais. A palestra inicial do evento ficou a cargo do economista e ecologista Sérgio Bessermann, professor do departamento de economia da PUC-RJ e presidente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que alertou para a tendência de imprevisibilidade nas projeções climáticas de longo prazo.
“O que ocorreu nos últimos três a quatro anos nos pegou de surpresa inúmeras vezes. O fato de ter havido um super El Niño pode ser uma parte grande da explicação. Mas pode ser que o super El Niño torne-se evento muito mais frequente”, discorreu o economista. Para ele, a imprevisibilidade dificultará a elaboração de cenários para os custos das mudanças climáticas. “Já tínhamos muitos estudos sobre esses custos, alguns muito bons, mas em cima do que era previsível.”
É impossível, na opinião de Bessermann, atingir o objetivo fixado no Acordo de Paris de não ultrapassar um acréscimo de 2 graus Celsius na temperatura do planeta até o fim deste século. Isso poderia ter sido alcançado “se tivéssemos começado a promover ações efetivas de redução nas emissões de gases-estufa 20 atrás anos ou pelo menos em 2001, quando já havia robustez e segurança científica sobre a associação entre atividades humanas e aumento na temperatura global média desde o século 18”, salientou.
Em seguida, o Diretor de Project Finance do Bradesco BBI, Rui Gomes Jr., explicou como funciona a modalidade, voltada a financiar projetos de infraestrutura com maturação de longo prazo. No project finance, o empréstimo é estruturado levando em conta a estimativa de receita futura do projeto.
“O investimento em infraestrutura no Brasil enfrenta um momento de transformação”, ponderou o executivo do BBI Bradesco, que sintetizou a transição atual em cinco tendências: energia como principal setor com demandas de investimento; retomada dos leilões de logística; novos “players”, como empresas chinesas e fundos de private equity; redução no volume de desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); e crescimento de novas fontes de financiamento. No caso da energia renovável, o executivo opinou que a contratação de novos projetos das fontes eólica e solar neste e no próximo ano dependerá da retomada dos leilões pelo governo.
Além do project finance, Gomes Jr. falou sobre o aumento da participação de novas fontes de financiamento nos projetos de infraestrutura. Entre elas, encontram-se as debêntures incentivadas de infraestrutura, instituídas pela Lei nº 12.431, que estabeleceu um regime tributário privilegiado com o intuito de estimular investimentos de longo prazo via mercado de capitais. De acordo com o executivo, foram emitidos R$ 4,402 bilhões em debêntures de infraestrutura em 2016 nos setores de energia, logística, telecomunicações e saneamento. Somente o setor de energia foi resposável por 72% do valor total dessas operações.
O vácuo aberto pelo BNDES também levou agências multilaterais a retomar interesse por projetos de infraestrutura no Brasil, relatou o executivo. “Tanto o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como a Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) buscam atuar como investidores no mercado de debêntures de infraestrutura.”
O terceiro e último expositor surpreendeu a plateia ao contradizer a queixa de empresas sobre a dificuldade de contrair crédito sob condições compatíveis com a maturação dos negócios sustentáveis. “Nunca houve um estoque de liquidez tão grande no mundo, desde 2008, com um volume de riqueza absurdo buscando projetos para financiar”, afirmou Gustavo Pinheiro, Coordenador de Porfólio – Economia e Política Climática do Instituto Clima e Sociedade (iCS). Segundo ele, há deficiência na elaboração de bons projetos, especialmente de propostas que já incorporem a perspectiva do desenvolvimento de baixo carbono.
Lançado em 2007, o mercado global de títulos verdes certificados (green bonds) já soma US$ 118 bilhões. Quando se adicionam os títulos relacionados ao desafio climático, mas não certificados como “green bonds”, o valor desse mercado aumenta para US$ 694 bilhões, de acordo com dados compilados da Green Bonds Initiative. “Os títulos verdes permitem aos investidores diversificarem suas carteiras, mitigam riscos climáticos, geram retorno financeiro com cobenefícios ambientais, são valorizados no mercado secundário e possuem prêmio de risco potencialmente menor que o dos mercados convencionais”, explicou. Pouco mais de R$ 3 bilhões já foram captados no Brasil por meio do lançamento de títulos verdes desde 2015.
Desde então, sete empresas já emitiram títulos verdes no Brasil – BRF, Suzano Papel e Celulose, Fibria, CPFL Renováveis, Ômega Energia, Rio Energy e BNDES (o banco captou R$ 1 bilhão em maio deste ano para investimento em energia solar e eólica). “Com R$ 1 bilhão captado, eles capitalizaram um novo fundo do banco com foco em renováveis. Saiu mais barato do que se o Tesouro tivesse captado”, assinala o representante da iCS.
Com três workshops já realizados este ano, a série “Diálogos de Financiamento Climático” reúne instituições financeiras e empresas interessadas. O último da série será realizado no dia 17 de outubro, na sede da FIESP, em São Paulo. “O 4º Workshop terá a participação de importantes atores nacionais e internacionais que trarão um maior detalhamento sobre os mecanismos de estruturação de projetos que visam à transição para uma economia de baixo carbono”, revela Carlo Pereira, Secretário Executivo da Rede Brasil do Pacto Global. Em 2018, Rede Brasil lançará uma publicação sobre os principais temas discutidos nos workshops, de modo a facilitar o acesso das empresas às fontes de financiamento. O GT de Energia e Clima é coordenado pela Braskem.